segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Um dia vou escrever um romance...para já começo por um ensaio (Cap. IV)




Cap. IV

A beleza do amanhecer fê-la pensar no excelente fim de semana que passou. Um sorriso, nos lábios, cabelo atrás da orelha e, finalmente, carrega no acelerador rumo ao trabalho.


O dia era igual a todos os outros, o mesmo itinerário, as mesmas ruas, as mesmas pessoas…. Mas para Camila, hoje tudo parecia diferente. Em tudo via beleza, cumprimentava todas as pessoas, como se as conhece, e a música, essa tocava bem alto no seu leitor de cd’s. “Beautiful day”, dos U2, nada melhor, nesta segunda de manhã.
Estaciona o carro, baixa o som do rádio, e encosta a cabaça ao banco, sorrindo ao lembrar-se das aventuras de final de semana.
Hoje tudo parecia diferente, as cores, os brilhos, até mesmo os próprios alunos.
Como de costume, Camila já estava na sala de aula quando a campainha avisou os alunos que estava na hora. Eles entraram e reparam no brilho dos seus olhos, que era, sem dúvida, diferente. Uns mais atrevidos comentaram e ela, sorrindo corada, lá mudou de assunto, mas não desmentiu.

O gosto por falar, por contar estórias da história, era, de fato, algo que lhe enchia o ego e a fazia esquecer tudo resto. O seu envolvimento com a sua profissão fazia-a esquecer o mundo. Muitas vezes, até o telemóvel passava despercebido, mas, nesse dia, não.
A campainha voltou a tocar, era hora de saída para descanso e enquanto os alunos deixavam a sala de aula, Camila não conseguiu esperar e foi direta à carteira ver o telemóvel.
Tinha uma mensagem. Pensou, “é do José”. Sorriu para o telemóvel, sentindo-se uma adolescente, desesperada para saber o que dizia. O semblante mudou e Camila ficou incrédula - a mensagem era de António.
“Bom dia. Há muito que não te falo, mas gostava de saber se está tudo bem. Tenho saudades”, dizia.
Ao ler aquilo, os olhos de Camila encheram-se de lágrimas e raiva. “Este homem não me deixa em paz. Agora que as coisas começam a mudar para mim, ele volta a aparecer”, pensou.
Camila decidiu desligar o telemóvel e continuar o seu dia. A manhã decorreu normalmente e o telemóvel continuava na carteira desligado para não atrapalhar os seus pensamentos.

Como não tinha aulas da parte da tarde, Camila decidiu convidar a melhor amiga, Joana, e ir até ao Shopping.
No caminho, a professora não resistiu e contou o seu fim de semana e o que tinha acontecido de manhã. Joana ficou feliz e disse a Camila desconfiar que António tenha terminado a relação que o fez esquecer-se dela.

- Não caias. Ele deixou de te falar sem mais nem para quê. E agora vem com falinhas mansas. Não te fies. Relativamente ao José, investe, ele é um querido. – disse Joana.

Camila ficou calada com os pensamentos longe e apercebendo-se que a amiga tinha terminado respondeu.

- Ele tinha de aparecer agora. Foi um fim de semana tão bom, mal me lembrei dele e hoje de manhã aquela mensagem.

Ao lembrar-se da mensagem, recordou-se também que tinha desligado o telemóvel. Voltou de novo à carteira, ligou-o e tinha duas mensagens. Uma de José e mais uma de António.
António dizia que estava arrependido de se ter afastado, que queria falar com ela e José relembrava o fim de semana, dizendo que queria repetir, não só ao fim de semana, mas, se possível, todos os dias.
Os olhos dela sorriram, ficou feliz. A mensagem do António ficou a marinar, ao contrário, a de José merecia resposta. “Mas o que responder?”, pensou e perguntou a Joana.
Joana que tinha um feitio mais pró, mais ativo, mais à frente, aconselhou-a a dizer “anda já hoje”. Claro que Camila não o fez, era muito ponderada, muito “pés assentes na terra”.
Depois de pensar, respondeu “Eu também gostei do fim de semana. O futuro, vamos fazê-lo lentamente”. Do outro lado, a resposta foi um sorriso e um beijo.

O telemóvel voltou para o saco e as duas lá foram para o Shopping, onde percorreram as lojas todas, viram todas as tendências, comprando aqui e ali. Quando se aperceberam era hora de jantar. Comeram por ali mesmo e no final voltaram a casa.

- Boa noite. Gostei muito, como o costume – disse Joana ao sair do carro.

- Eu também, agora vamos dormir que amanhã regressamos ao trabalho – respondeu Camila, arrancando.

Entrou em casa, colocou as chaves na prateleira da entrada e sentou-se finalmente no sofá, apercebendo-se que estava com dores nas pernas (pudera, depois de uma tarde sem parar no shopping). Decidiu pegar no telemóvel e lá tinha uma mensagem de José, mais uma mensagem querida de alguém que estava claramente a querer conquistar. Ela respondeu no mesmo “tom” e começou ali uma troca de mensagens que só terminou de madrugada, quando ambos se deixaram vencer pelo sono, tendo, antes disso, combinado café para o dia seguinte à noite.

A terça feira parecia não terminar, Camila só pensava como seria, o que devia fazer ao chegar perto dele, como reagir. Que roupa vestir, como arranjar o cabelo….o toque da campainha fê-la saltar da cadeira e os alunos sorriram. Era a última aula e Camila tinha de ir para casa arranjar-se.

Saiu da escola e no caminho de casa, encontrou António na rua que ficou com olhar triste a olhar para dentro do carro. Ela que ficou com a mesma sensação de tristeza, não demonstrou, fez de conta que não o viu e olhou para a frente, sorrindo, embora, por dentro, lhe apetece chorar. Decidiu não fazê-lo porque, daí a pouco, iria estar bem, com alguém que era especial, alguém que a fazia sentir especial.

21H00 em ponto, a hora combinada, a campainha de casa toca. O coração de Camila tremeu, mas ela controlou-se e abriu a porta. O embaraço começou logo ali, nem um nem outro sabiam muito bem como se cumprimentar. Até que José tomou as rédeas e deu-lhe um beijo leve nos lábios.
Camila convidou-o a entrar, levando-o até à sala, enquanto foi calçar-se. Pronta, entrou na sala e sentiu-se completamente observada da cabeça aos pés. Corou e ainda não recomposta, José diz-lhe que está linda.
Ela sorriu, muito embaraçada e disse: – Vamos.

Foram até um bar, conversaram, trocaram uns carinhos, falaram do trabalho, dos alunos de Camila e dos problemas informáticos que José tinha resolvido nas últimas horas, já que era engenheiro informático.
Quando olharam para o relógio, já era tarde. Decidiram pagar e ir embora. Ao chegar a casa, Camila não o convidou para entrar, era tarde, e sabia que se entrasse, poderia ser perigoso. Deu-lhe um beijo de boa noite e despediu-se.
Ele ficou a olhar enquanto ela entrava em casa. Ao fechar a porta, Camila sorriu e pensou que estava a começar a interessar-se por aquele sorriso maroto de José, mas isso era algo que não queria, porque tinha sofrido muito e ainda não tinha passado muito tempo.
“Não, não vou deixar de me dar uma oportunidade só porque um idiota me magoou”, pensou e foi dormir.

As semanas foram passando, todas as manhãs, Camila era acordada com uma mensagem de bom dia, enviada por José, e quase todos os dias se encontravam, sendo que os fins de semana já eram pensados em conjunto. No entanto, não falavam de namoro, diziam-se amigos.


O sorriso de Camila transformou-se, a alegria de viver e de amar começou a ganhar forma e António só surgia na sua cabeça quando ele próprio fazia questão de a lembrar que existia.

2 comentários: